19 de set. de 2014

A violência da Viralização

No posto de gasolina da minha rua, a atendente da loja de conveniência gravou, lá em 2012, uma entrevista no noticiário local para denunciar uma marca x de alisante de cabelo. Ela passou o produto e sofreu queimaduras na cabeça, e uma queda tão profunda que passou anos com uns toquinhos de cabelo. Até hoje ela usa megahair por conta da queda, e a empresa de alisante se negava a prestar auxílio. Por esse motivo ela foi até o Jornal do Almoço, mostrar a situação horrível da cabeça dela e pedir ajuda à equipe, para que entrassem em contato com a empresa e cobrassem um posicionamento.
E daí?
E daí que hoje, em 2014, o vídeo que ela gravou na maior boa vontade, para alertas outras consumidoras de alisante e pressionar a empresa a tomar alguma providência já que eles haviam se recusado a manter contato, viralizou. Viralizou, viralizou, não se sabe como ou porque. Só sei que semana passada divulgaram ele no grupo de cabelo colorido que eu frequento não uma, mas três vezes!
Mais uma vez, e daí?
E daí que a moça está arrasada com a repercussão louca do vídeo. Trouxeram à tona, dois anos depois, um assunto que foi extremamente doloroso para ela, e agora divulgam nos grupos como se ela fosse culpada pela falta de profissionalismo da empresa. Títulos como “viu o que dá fazer as coisas em casa?” ou “mulher fica careca usando alisante fora do salão” fazem nada mais nada menos que culpabilizar a vítima. E cada pessoa que compartilha no perfil pessoal do facebook o vídeo, que mostra pra colega, que ajuda a divulgar a imagem da atendente da loja de conveniência completamente careca, está sendo responsável por aumentar ainda mais o sofrimento da mulher que já havia superado um pouco da dor da situação, mas que está sentindo toda a humilhação novamente, dois anos depois.
Ah, mas ela gravou o vídeo, não tem que se doer por causa de compartilhamento não.
Pois muito que bem. Dá pra analisar outra história então, em que a vítima não pediu pra ninguém postar o maldito vídeo na internet e mesmo assim viralizou. Um menino americano, gordo, lá pelos idos de 2010~2011, foi filmado no corredor da escola brincando com um cabo de vassoura fingindo ser um Jedi. O vídeo foi compartilhado diversas vezes, teve milhões de visualizações, o menino ficou famoso. Ha ha, bom pra ele, ne? Não, não foi bom pra ele. Hoje, anos depois, ele deu uma entrevista falando que aquela época foi a pior da vida dele, e que o guri inclusive tentou suicídio por conta da exposição desnecessária que sofreu quando o vídeo começou a ser compartilhado.
Diariamente temos visto notícias esparsas de adolescentes e adultos que acabam cometendo suicídio ou passam a precisar de auxílio psicológico pelos traumas que a exposição na internet causam. Vídeos íntimos de garotas vazam para a internet e elas são julgadas nas ruas, pelos familiares, pelos amigos. São violentadas posteriormente, física ou psicologicamente e praticamente forçadas a abandonar a convivência humana e se isolar para se proteger das ofensas e ameaças. Crianças que viram memes tem a possibilidade de crescer com grandes traumas, ou pior, chamam tanto a atenção para si que podem ser vítimas de violência por estranhos. Nunca podemos saber a extensão do dano que causamos.
Mães passam a gravar milhões de momentos dos filhos e jogar na internet, e em alguns casos doentios chegamos a ver pessoas com distúrbios psicológicos inventando doenças para os próprios filhos, como o caso do pobre Garnett Spears, que foi morto por envenenamento por sódio pela própria mãe, que precisava de um efeito mais real nas fotos de doença que publicava no Facebook para receber apoio do público.
No meu perfil do Facebook, raramente compartilho vídeos de pessoas (mil desculpas Giovana, a primeira postagem envolvendo uma pessoa que eu encontrei no meu perfil foi sobre seu forninho), mas tenho visto esse conteúdo crescente no feed, sem que as pessoas se coloquem no lugar do pobre coitado filmado por aí. Empatia, colegas, empatia. O vídeo pode ser muito engraçado, esses dias quase chorei de rir vendo um cara tomar banho de Dolly enquanto dançava Tchakabum, mas vamos nos policiar um pouco mais. Vamos pensar que a Chloe pode se sentir magoada pela quantidade enorme de piadinhas feitas com ela quando aprender a ler. Ou que a moça que gravou entrevista pro Jornal do Almoço estava em um momento de desespero, e que isso não precisa ser jogado na cara dela pelo resto da vida. Ou que o vídeo de sexo da menina que você está assistindo e divulgando pode causar o suicídio dela amanhã.

Sobre o maluco que tomou banho de Dolly, eu nem sei o que dizer. Na verdade eu achei engraçado pra caralho, mas escrevendo esse texto me bateu uma certa culpa. Desculpa, mano. Desculpa.

28 de jun. de 2013

Cantando na Chuva e meu problema com e-mails.

Existem certos momentos em nossas vidas que literalmente servem para separar os meninos dos homens, e pra mim enviar e-mails para professores pode muito bem ser considerado um deles. Obviamente, minha primeira prova de fogo nesse sentido me enfiou no lado mais fraco da clivagem social, quando eu escrevi um e-mail enorme para um professor qualquer perguntando milhões de coisas sobre um trabalho e... esqueci de anexar o arquivo. Isso foi na primeira fase da faculdade e eu pensei seriamente que era coisa de calouro, que logo logo essa imbecilidade pra me comunicar iria passar: não passou.
O final de semestre se provou muito mais cruel do que deveria nesse sentido: quase todos os professores pediram pra enviar os trabalhos por e-mail (até as 23:59hrs mimimipocó) e eu consegui uma série de mini ataques cardíacos. O principal motivo deles foi... enrolar até 23:58hrs pra mandar cada e-mail, e depois rezar pra internet me ajudar, pro arquivo anexar, pro texto não parecer muito ridículo, etc etc etc etc.
Oh glorious feel, I'm happy again.
Nesse tempo de espera até as 23:58hrs, nessa última semana, minha taxa de produtividade irrelevante foi maior que nos últimos 4 meses juntos. Em geral, como eu estou me preparando para a temporada de hibernação oficial de julho, a procrastinação se resumia a baixar 666 volumes de quadrinhos pra ler e analisar nas férias, mas³ algumas dessas atividades, aparentemente irrelevantes, se mostraram importantes para mim de certa forma. É aí que entra Cantando na Chuva.
Começando do começo, eu posso dizer que tinha dois dias para fazer uma avaliação de Teoria I e entregar por e-mail. Durante esses dois dias eu não fui pra nenhuma aula, me armei de um cobertor quentinho e dos textos da disciplina e... procrastinei até o último minuto. Então lá estava eu, fazendo nada no Facebook, quando vi uma imagem explicando os passos de dança daquela cena clássica de Cantando na Chuva compartilhada ou publicada, não lembro bem, pelo Cinetoscópio. Nos primeiros meses do semestre eu já havia assistido um trechinho do filme na aula de Imagem e Som, sei lá eu pra analisar o que, e eu lembrei que tinha me prometido assistir o filme inteiro. E tal como minha avózinha dizia, mente vazia, oficina do Diabo: porque não assistir Cantando na Chuva hoje? E a partir daquele momento, decidi que não era uma prova importante de Teoria que me salvaria o semestre, que ia me impedir.
So, this is the story of How I met your mother de como eu entrei em contato com esse filme maravilhoso. E depois de todo esse relato que certamente fará muita diferença em suas vidas, fica a minha opinião sobre Cantando na Chuva, que certamente será tão relevante quanto o começo do texto. (: